quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Ninguém ouviu? Nenhuma pessoa escuta? Alguém perceberá?

A origem da palavra trabalho não é a das mais animadoras. No Brasil, o “tripalhum” parece ser seguido de forma literal. Em virtude do que configurou-se tal situação para o trabalhador brasileiro? Não seria exagero dizer que ainda existe trabalho escravo em nosso país?

Primeiramente, se analisarmos a história do Brasil, veremos um quadro progressivo de sofrimento do labutador. Os portugueses invadiram as terras tupiniquins, catequizaram os índios, automaticamente, escravizaram-nos. Os negros retirados de sua terra mãe sustentaram, através da torpe escravidão, a coroa portuguesa. Mesmo alguns revoltosos, e os inconfidentes tentando ajudar na mudança, quase nada de concreto, que alicerçasse sua liberdade, conseguiram.

Desse modo formou-se a história do trabalhador brasileiro. Hoje, mal se nota a mudança. Principalmente diante do painel nas lavouras de cana-de-açúcar, onde bóias-frias, por excesso de trabalho, sofrem birola ou morrem por exaustão. As crianças ainda são encontradas nas minas de carvão, nas roças, nas ruas vendendo bala, ao invés de estarem na escola, embora não seja certo, aí, o aprendizado da cidadania. Ademais, existem os "gatos", os contratadores de empreitada, responsáveis pela “seleção” de mão-de-obra para determinados fazendeiros. Esses “profissionais” contratam as pessoas para os mais diversos trabalhos agropecuários, como derrubadas de matas nativas para formação de pastos, preparação do solo para plantio de sementes, entre outros, e servem de fachada para que não recaia sobre os fazendeiros a criminalidade de seu aliciamento a tais contratados. Afinal, essas pessoas contratadas não têm direitos trabalhistas básicos.

Inclusive, há um pacto nacional pela erradicação do trabalho escravo, cuja missão se intitula: “Implementar ferramentas para que o setor empresarial e a sociedade brasileira não comercializem produtos de fornecedores que usaram trabalho escravo”. No entanto, basta uma pesquisa básica na Internet em qualquer site de busca para ver que o quadro brasileiro é bastante preocupante. Isso porque o Ministério do Trabalho e Emprego listou duzentos e noventa e quatro empresas e pessoas físicas que praticam trabalho escravo no Brasil. Tal lista iniciou-se em 2004 pelo ministério, valendo lembrar, ainda, que a lista é atualizada, pelo menos, a cada seis meses e os nomes são mantidos por dois anos. Talvez alardear quais empresas praticam tal abominação seria um forma de fazê-los, pelo zelo aos seus próprios bolsos, mudar ou diminuir suas práticas. Ou não?

É importante ressaltar que a escravidão moderna não é uma situação exclusiva do meio rural, afinal, nas aéreas urbanas o panorama também é similar. Nisto o exemplo mais visível está na região metropolitana de São Paulo, onde imigrantes ilegais, principalmente bolivianos, outros latino-americanos e até asiáticos trabalham muito mais que quarenta horas semanais, sem direito a folga e com baixíssimos salários, geralmente em oficinas de costura da grande megalópole. Além disso, o Paraná possui quinze empresas na lista de trabalho escravo do Ministério do Trabalho e Emprego, sendo que onze figuram pela primeira vez no relatório. Entre as citadas estão fazendas e madeireiras, principalmente da região Sul do Estado. Semelhantemente, na Bahia são cerca de dez fazendas, na lista suja do ministério, realizando essas atividades escusas. Regularização de imigrantes? Multas aos fazendeiros e empresas? Seriam soluções?

Enfim, o que se vê é a tortura continuada e a maioria de nós nem nota, ou dá atenção a degradante situação dos trabalhadores brasileiros. Alguns se resignam, às vezes, sem escolha, a subempregos e salários ínfimos. Outros prosseguem na escravidão. E a voz firme de Clara Nunes resume o quadro: “E ecoa noite e dia, é ensurdecedor. Ah! Mais que agonia o canto do trabalhador. Esse canto que devia ser um canto de alegria soa apenas como um soluçar de dor”.

Será, mesmo, inaudível esse lamento tão estrondoso?


***

Links para a lista suja:

http://portal.mte.gov.br/portal-mte/
http://portal.mte.gov.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?fileId=FF8080812D37E16B012D4CD52AAC1A01


E um pouco do muito de Clara Nunes:

Um comentário:

Naiana P. de Freitas disse...

é..super triste! :(

o pior é a nossa escravidão mental que acomoda tudo..ai como eu queria que as letras fossem ouvidas!! Nós só podemos observar..parece que no BRA não há reclamação efetiva! :(