sábado, 14 de julho de 2012

A voz do Amazonas: Cantiga de claridão

Cantiga de claridão

por Thiago de Mello

Camponês, plantas o grão
no escuro – e nasce um clarão.
Quero chamar-te de irmão.

De noite, comendo o pão,
sinto o gosto dessa aurora
que te desponta da mão.

Fazes de sombras um facho
de luz para a multidão.
És um claro companheiro,
mas vives na escuridão.
Quero chamar-te de irmão.

E enquanto não chega o dia
em que o chão se abra em reinado
de trabalho e de alegria,
cantando juntos, ergamos
a arma do amor em ação.

A rosa já se fez flama
no gume do coração.

Camponês, plantas o grão
no escuro – e nasce um clarão.
Quero chamar-te de irmão.

Um dia vais ser o dono
do verde do nosso chão:
nunca vi verde tão verde
como o do teu coração. 

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[Do presente dos inesquecíveis: Faz escuro mas eu canto. Thiago de Mello - 23ªEd. - Rio de janeiro: Bertrand Brasil, 2009. p. 43-44.]

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